Páginas

domingo, 23 de maio de 2010

Tributo Ao Melhor Amigo

Comumente passamos nossos fins de semana em nossa chácara Recanto do Batuíra, numa das mais deliciosas cidades do interior mineiro que é Inhaúma.
Num desses dias, ao chegar com minha família, fui surpreendido com um fato inusitado. Fomos recepcionados com tanta euforia e alegria por nosso "boxer" Chiquito, que ele, simplesmente, desmaiou ao nos ver. Sua alegria e emoção foram tão fortes que o fizeram cair para trás, como que fulminado a nossa frente. Apavorados, saimos todos correndo do carro, pensando que o pobre do Chiquito morrera. Passados alguns segundos, voltou a si, balançou seu rabinho, tirou a poeira do corpo e continuou a nos festejar como só ele sabe fazer.
Exultava de alegria e satisfação com a nossa presença, e parecia querer demonstrar isso. Com a ajuda de uma colega veterinária, especialista em cães, retiramos a hipótese de ataque epiléptico, ficando, pois, comprovado que Chiquito desmaiara de emoção.
Diante de tamanha demonstração de carinho, comecei a refletir sobre a grande afeição e amizade que esses seres irracionais nos proporcionam quase a todo momento. A amizade de um cão para com o homem é tão grandiosa que nos deixa a idéia de que Deus o colocou ao nosso lado para nos ensinar o verdadeiro sentido da amizade.
O cão não quer absolutamente nada do homem a não ser amá-lo. Ele nunca se envergonha do seu dono, por mais desclassificado, réprobo ou infame que ele seja. Está sempre ao seu lado no perigo, na doença, na miséria, na dor, na tristeza e na morte, com toda a imensa afeição que estampa em seus olhos.
O cão é a virtude que, impedida de tomar a forma humana, fez-se animal. O cão é o único amor verdadeiro que o dinheiro pode comprar, apesar do velho ditado dizer que "amor e afeto não se compram com dinheiro". É um amigo fiel e absolutamente desinteressado que possui o homem neste mundo mesquinho e egoista.
Ao ver a afeição e o amor que Chiquito nos doa, sinto-me pequeno diante de sua meiga camaradagem. Ao vê-lo, enroscar-se em minhas pernas, lamber carinhosamente minhas mãos, roçar-se em meu corpo, acompanhar-me por onde vou com aqueles olhos ternos e solícitos, sinto a grandeza desinteressada de sua amizade. Nesses momentos, sinto-me um pigmeu na arte do afeto e do amor.
Somente quem já possuiu um cão compreende como é gostoso ser amado por esses seres divinos. Ninguém sabe perdoar tanto como um cão. Ser seu verdadeiro amigo não é fácil, porque a verdade é esta: não somos nós, mas sim o cão que tem a grandiosa qualidade de se doar.
Talvez por isso Axel Munthe, emocionado, disse: "os cães, todos, são a expressão mais adorável e, moralmente falando, a mais perfeita criação de Deus. O cão é um santo"...
O senador Geoge Graham Vest, então modesto advogado do Missouri, solicitado a intervir no julgamento de um celerado assasino de cães, em defesa do mesmo animal, pronunciou, em 23 de setembro de 1870, um discurso que o imortalizou:
"O melhor amigo de um homem poderá deixar de estimá-lo e converter-se em seu inimigo. Os filhos que ele carinhosamente criou poderão ser-lhe ingratos. Os entes a que mais queremos no mundo e aos quais confiamos nossa felicidade e emprestamos nosso nome, poderão trair-nos e serem desleais. Um homem pode perder sua fortuna, que as mais das vezes lhe foge quando dela mais necessita. A própria reputação pode abandoná-lo.
As pessoas que nos bajulam e nos rendem homenagem hoje, que o êxito nos acompanha, atirar-nos-ão amanhã as pedras da malignidade, quando a densa nuvem do fracasso, porventura, se abater sobre nós. Único amigo absolutamente desinteressado, que possui o homem neste mundo egoísta, o único que jamais o abandonará, o único que nunca lhe será ingrato, nem traidor, nem desleal, é o seu cão. Ele permanecerá ao lado do amo na prosperidade, na pobreza, nos bons e nos maus dias. Dormirá ao relento, açoitado pelos ventos glaciais e pela neve que o penetrará até a medula, sempre que isso significar aproximar-se do seu dono. Velará o sono do seu amo miserável como o faria se ele fosse um príncipe. Quando todos os outros amigos o abandonarem, ele permanecerá."
Extraido do Livro: "Essência de Nardo" de Sergito De Souza Cavalcanti. Editora Itapuã.Contagem,M.G.

Nenhum comentário:

Postar um comentário